“Será uma projeção de filme clássico a partir de uma tira de filme 35mm e tem um charme único!” disse a curadora da NFA sobre o filme Vidas secas, que os espectadores podem esperar no Ponrepo.
- Kino Brasil
- 16 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de out. de 2024

O primeiro filme do festival deste ano terá estréia no cinema Ponrepo. Por isso preparamos também para vocês uma entrevista com a curadora do Arquivo Nacional de Cinema, Klára Trsková, que é próxima da cultura e da arte dos países de língua portuguesa. Leia porque você não deve perder o filme Vidas Secas e como Klára entrou no mundo da língua portuguesa e do cinema.
[Barbora] A 11ª edição do festival de cinema Kino Brasil começará este ano pela primeira vez no cinema Ponrepo. O público pode assistir ao filme brasileiro Vidas Secas lá. Você está animada com o fato de o festival começar no Ponrepo e com este filme icônico este ano?
[Klára] Sim, nós do Ponrepo estamos muito felizes porque este ano também poderemos levar filmes de arquivo brasileiros armazenados no acervo do Arquivo Nacional de Cinema de Praga para os espectadores do Kino Brasil. Além disso, será uma projeção clássica de filme a partir de uma tira de filme 35mm e tem um charme único!
[Barbora] O que você vê como qualidade do filme, por que as pessoas deveriam assisti-lo?
[Klára] O filme Vidas Secas conta a história da fuga de uma família do Nordeste do Brasil devido à quebra de safra e à fome, que assolaram repetidamente esta parte do país devido à seca prolongada. A obra-prima literária da pena de Graciliano Ramos de 1938 pertence ao cânone literário brasileiro. Quando Nelson Pereira dos Santos transformou o romance em filme, em 1963, seu filme tornou-se uma das obras que ajudaram a moldar a estética da nova onda cinematográfica brasileira (o chamado Cinema Novo). Para o cinema brasileiro, o diretor Nelson Pereira dos Santos é uma personalidade tão importante quanto Věra Chytilová ou Miloš Forman são para o cinema tcheco. Embora a seca e a fome não sejam assuntos fáceis, este é um filme visualmente impressionante que levanta muitas questões.

[Barbora] Você gosta de oferecer filmes brasileiros ao público, este ano está exibindo o segundo filme no cinema Ponrepo em cooperação com Kino Brasil. Por que filmes brasileiros?
[Klára] Temos laços de amizade de longa data com a Cinemateca Brasileira em São Paulo (que é o equivalente brasileiro do nosso arquivo de filmes em Praga). Tentamos ajudar-nos mutuamente na organização de exibições de filmes em ambos os países ou na restauração digital de filmes de arquivo. A curadora Marie Barešová apresentou vários filmes tchecoslovacos ao público brasileiro em São Paulo no ano passado e se inspirou para exibir o filme Retratos Fantasmas (2023) sobre cinemas brasileiros extintos, que o público já podia assistir no cinema Ponrepo. Haverá a oportunidade de fazer isso novamente como parte do festival Kino Brasil no dia 01/11 a partir das 18h no Bio Oko.
[Barbora] No vídeo-convite que você fez para o Kino Brasil, você fala português fluentemente. Pode-se ver que você está próxima do idioma. Então o seu interesse é principalmente por filmes brasileiros, ou também por filmes lusófonos de outros países?
[Klára] A cultura e a arte dos países de língua portuguesa estão próximas de mim e gosto de apresentá-las ao público tcheco. Concentro-me principalmente nos países africanos de língua portuguesa, que são Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Apresento filmes destes países todos os anos no Ponrepo durante o festival AfroFilmes. No próximo ano, entre eles estarão obras relacionadas à diáspora africana brasileira, para que no final de fevereiro (21-24/02/2025), os fãs do cinema brasileiro possam esperar mais uma experiência!
[Barbora] Onde você aprendeu o idioma?
[Klára] No começo foi difícil para mim aprender bem o português. Frequentar cursos noturnos de línguas no Centro Português do Instituto Camões ajudou-me muito, mas melhorei mais foi durante o ano em que estive no programa "Erasmus" na Universidade de Coimbra, onde vivi na "república estudantil" SOREA. Tive que aprender a língua lá rapidamente para poder participar no funcionamento diário da nossa casa comunitária.
[Barbora] E como você entrou no cinema depois de estudar português?
[Klára] Além dos estudos portugueses e dos estudos lusobrasileiros, também estudei na Faculdade de Estudos Cinematográficos do Centro de Estudos Audiovisuais da FAMU. Agora procuro conciliar a parte teórica e prática de todas as minhas áreas.
[Barbora] Tudo finalmente se encaixou para mim. Por fim, gostaria de saber se você vai a algum outro evento do Kino Brasil? O que você mais espera?
[Klára] Meu grupo de capoeira fará uma "roda" na cerimônia de abertura do Kino Brasil. Ainda sou uma iniciante, mas estou ansiosa para ver como ficará no ambiente do cinema! Se você se interessa pela capoeira, pode comparecer a um dos treinos de Axé capoeira em Holešovice durante o festival. Entre as atuações cinematográficas, me interessei muito pelo filme Betânia, e então com certeza não perderei de ir ver Retrato de um Certo Oriente, pois gosto dos romances de Milton Hatoum, que é autor do livro em que o filme se baseia.
Gostou do artigo? Leia mais aqui.
Veja a programação do festival aqui.
Comments