O ano é 1831 e o imperador brasileiro Dom Pedro I abdicou do trono em circunstâncias turbulentas. Ele deixa o país amado, a mulher e o filho e parte para uma viagem apressada a Portugal, para decidir com o seu irmão quem vai assumir o poder. A diretora e autora do roteiro, Laís Bodansky, nos convida a uma viagem de navio durante a qual retrata o detentor, envolto no manto do passado glorioso, como um ser humano comum e frágil. Vemos, assim, o contraste entre como ele queria e deveria ser em sua orgulhosa posição imperial, e como ele se sente. O ator Cauã Reymond despe o personagem do imperador de todas as roupas reais, mostrando o rosto de um homem inseguro e confuso, que sente um grande peso de culpa. Já não sabe onde é o seu lugar. A revelação corajosa e incomum dos pensamentos de um grande homem da história, que se configura quase como loucura, é elaborada numa mistura experimental de várias técnicas de filmagem e narrativa. As imagens do passado do imperador se misturam com o cambalear do navio, e momentos místicos são cortados por memórias da sua infância. As quatro línguas faladas no filme aproximam não só a realidade da época, mas também multiplicam os mundos entre os quais D. Pedro se encontra em pleno oceano. Não é preciso conhecer a história de Portugal e do Brasil para se envolver com esse enredo fascinante, que nos permite testemunhar a transformação deum ser humano durante uma viagem marítima.